sábado, 1 de agosto de 2009

Cap. 14 - Investigações Coletivas sobre o Espiritismo

Comissões diversas têm-se reunido em diferentes ocasiões para examinar o Espiritismo. Dessas as duas mais importantes foram a da Sociedade Dialética, em 1869 a 1870 e a Comissão Seybert em 1884, das quais a primeira era inglesa e a segunda americana. A estas deve acrescentar-se uma francesa, o Instituto Geral Psicológico, em 1905 a 1908. A despeito dos intervalos entre essas várias investigações, é conveniente tratá-las num capítulo único, porque certas observações em comum se aplicam a cada uma delas.
Há óbvias dificuldades no caminho das investigações coletivas – dificuldades por vezes tão graves que são quase insuperáveis. Quando um Crookes ou um Lombroso explora o assunto, ou o faz sozinho com o médium, ou tem consigo outras pessoas cujo conhecimento das condições psíquicas, bem como de suas leis, podem ser um auxílio no trabalho. Geralmente assim não se dá com as comissões. Elas não compreendem que são, elas próprias, parte da experiência e que lhes é possível criar vibrações tão intoleráveis e se cercarem de uma atmosfera tão negativa que essas forças exteriores, que são governadas por leis muito definidas, se tornam incapazes de a penetrar. Não é em vão que a palavra “unanimemente” é intercalada no relato da reunião apostólica da sala de cima.
Se uma pequena peça de metal pode perturbar toda uma instalação magnética, também uma poderosa corrente psíquica adversa pode estragar um círculo psíquico. É por esta razão, e não por qualquer credulidade superior, que os praticantes espíritas frequentemente alcançam resultados jamais obtidos por simples pesquisadores. Também esta deve ser a razão por que uma comissão na qual os espíritas se achavam bem representados foi a única a obter certos resultados positivos. Esta foi a comissão escolhida pela Sociedade Dialética de Londres, a qual iniciou as suas investigações no começo de 1869 e apresentou o seu relatório em 1871. Se o bom senso e as leis comuns da evidência tivessem sido respeitados na recepção desse relatório, o progresso da verdade psíquica teria sido acelerado em cinquenta anos.
Trinta e quatro cavalheiros de posição tinham sido nomeados para essa comissão, cujos termos de referência eram investigar os fenômenos tidos como “manifestações espíritas”. A maioria dos membros certamente tinha disposição para desmascarar qualquer impostura, mas eles defrontaram uma porção de provas que não podiam ser desprezadas e terminaram convindo que “o assunto era digno de maior atenção e cuidadosa investigação do que tinha recebido até então”. Essa conclusão de tal maneira pasmou a sociedade que eles representavam, que não foi possível dela obter a publicação das observações. Então a comissão resolveu publicá-la à sua própria custa, oferecendo assim um permanente registro da mais importante investigação.
Os membros da comissão tinham sido escolhidos das mais variadas profissões, inclusive um doutor em teologia, dois médicos, dois cirurgiões, dois engenheiros civis, dois membros de sociedades científicas, dois advogados e outros de alta reputação. Charles Bradlaugh, o Racionalista, dela fazia parte. O Professor Huxley e G. H. Lewes, marido de George Eliot tinham sido convidados a cooperar, mas ambos recusaram. Huxley, em resposta ao convite, disse que “supondo que os fenômenos sejam verdadeiros, eles não me interessam”, expressão que mostra que esse grande homem iluminado tinha suas limitações.
As seis subcomissões se reuniram quarenta vezes para experiências, por vezes sem o auxílio de um médium profissional e com absoluto senso de responsabilidade concordaram que os seguintes pontos aparentemente tinham sido estabelecidos:
1. “Que sons de um caráter muito variado, aparentemente vindos de móveis, do soalho e das paredes da sala – as vibrações acompanhadas de sons são muitas vezes distintamente perceptíveis ao tato - ocorrem sem serem produzidos por ação muscular ou dispositivo mecânico.”
2. “Que movimentos de corpos pesados se dão sem dispositivo mecânico de qualquer espécie ou adequada aplicação de força muscular pelas pessoas presentes, e frequentemente sem contacto ou conexão com qualquer pessoa.”
3. “Que esses sons e esses movimentos muitas vezes ocorrem em ocasiões e da maneira pedida pelas pessoas presentes e, por meio de um simples código de sinais, respondem a perguntas e deletreiam comunicações coerentes.”
4. “Que as respostas e comunicações assim obtidas são, em sua maioria, constituídas de fatos comuns; mas por vezes são contados corretamente fatos conhecidos apenas de uma das pessoas presentes”.
5. “Que as circunstâncias sob as quais ocorrem os fenômenos são variáveis e o fato mais importante é que a presença de certas pessoas parece necessária à sua ocorrência e que a de outras, geralmente, é adversa; mas essa diferença não parece depender de nenhuma crença ou descrença relativa ao fenômeno.”
6. “Que, não obstante, a ocorrência dos fenômenos não é garantida pela presença ou ausência de tais pessoas, respectivamente.”
O relatório resume em poucas palavras, como se vê adiante, as provas orais ou escritas recebidas, e que não só testemunham fenômenos da mesma natureza dos observados pelas sub-comissões, mas outros do mais variado e extraordinário caráter:
1. “Treze testemunhas declaram que viram corpos pesados – nalguns casos homens – erguerem-se lentamente no ar e aí ficarem por algum tempo, sem apoio visível ou tangível”.
2. “Quatorze testemunhas atestam terem visto mãos ou rostos, não pertencentes a nenhum ser humano, mas com aparência de vida e com mobilidade, que por vezes tocaram ou roçaram e, assim, estão convencidos que não eram o resultado de impostura, nem de ilusão.”
3. “Cinco testemunhas sustentam que foram tocadas por algum agente invisível, em várias partes do corpo, e onde pediam que o fossem, quando as mãos de todos eram visíveis.”
4. “Treze testemunhas declaram que ouviram peças de música bem tocadas em instrumentos não manipulados por qualquer agente visível.”
5. “Cinco testemunhas sustentam que viram carvões incandescentes postos nas mãos e na cabeça de várias pessoas, sem produzir dor ou queimadura, e três testemunhas sustentam que fizeram a mesma experiência em si mesmas, com os mesmos resultados.”
6. “Oito testemunhas declaram que receberam informações precisas através de batidas, de escrita e por outros meios, e cuja exatidão era então desconhecida por elas próprias ou por qualquer dos presentes e que, em investigação posterior, verificaram ser exatas.”
7. “Uma testemunha declara que recebeu uma informação precisa e minuciosa que, não obstante, ficou provado ser inteiramente inverídica.”
8. “Três testemunhas declaram que se achavam presentes quando, em pouco tempo, foram feitos desenhos a lápis e aquarela e em tais condições que a ação humana era impossível.”
9. “Seis testemunhas declaram ter recebido informações de acontecimentos futuros e que, nalguns casos, a hora exata foi predita com precisão, com alguns dias e até com semanas de antecedência.”
Além disso, foram dadas provas de conversa em transe, de curas, de escrita automática, de transporte de flores e de frutos para recintos fechados, de vozes no ar, de visões em cristais e em espelhos e de alongamento do corpo humano.
O relatório termina com estas observações:
“Apresentando o seu relatório, vossa comissão, levando em consideração o elevado caráter e a grande inteligência de muitas das testemunhas dos mais extraordinários fatos, a extensão que esse testemunho alcança pelos relatórios das subcomissões, e a ausência de qualquer prova de impostura ou fraude, no que respeita a grande parte dos fenômenos; e, além disso, considerando o caráter excepcional dos fenômenos, o grande número de pessoas de várias camadas sociais e acima de tudo o mundo civilizado, que é mais ou menos influenciado pela crença em sua origem sobrenatural, e o fato de que até agora não se chegou à sua explicação filosófica, ela é de opinião que lhe cumpre declarar a sua convicção de que o assunto é digno de mais séria atenção e cuidadosa investigação do que tem tido até agora.”
Entre os que deram provas ou leram trabalhos perante a comissão, estavam: o Doutor Alfred Russel Wallace, Mrs. Emma Hardinge, Mr. H. D. Jencken, Mr. Benjamim Coleman, Mr. Cromwell F. Varley, Mr. D. D. Home, e o governador de Lindsay. Foi recebida correspondência de Lord Lytton, Mr. Robert Chambers, Doutor Garth Wilkinson, Mr. William Howitt, Mr. Camille Flammarion e outros.
A comissão teve a felicidade de obter provas dos que acreditavam nos fenômenos, mas quase que falhou por completo, como se vê do relatório, quando as quis daqueles que os atribuíam à fraude ou à prestidigitação.
No registro de provas de mais de cinqüenta testemunhas, há um volumoso testemunho da existência de fatos trazidos por cavalheiros e senhoras de alta reputação. Uma testemunha achou que o mais admirável fenômeno revelado pelos trabalhadores da comissão foi o extraordinário número de homens eminentes que se mostraram crentes firmes na hipótese espírita. E uma outra declarou que, fossem quais fossem as forças empregadas em tais manifestações, elas não podiam ser explicadas pelo recurso à impostura, de um lado, e à alucinação, do outro.
Um aspecto interessante do desenvolvimento do movimento é aquele observado por Mrs. Emma Hardinge de que, ao tempo (1869) apenas conhecia dois médiuns profissionais em Londres, ao passo que conhecia muitos não profissionais. Como ela própria era médium, certamente tinha razão ao se exprimir assim.
Mr. Cromwell Varley constatou que provavelmente não haveria mais que cem médiuns conhecidos em todo o império e acrescentou que muito poucos desses eram bem desenvolvidos. Temos aqui um testemunho conclusivo para o grande trabalho realizado na Inglaterra por D. D. Home, pois a maioria dos conversos o tinha sido através de sua mediunidade. Outra médium que desempenhou um papel importante foi Mrs. Marshall.
Muitas testemunhas falam das sessões convincentes que fizeram em sua casa. Mr. William Howitt, o conhecido escritor, era de opinião que tinha então recebido a consagração de cerca de vinte milhões de criaturas em toda a parte, após um exame pessoal.
O que pode ser chamado a prova para a oposição não foi absolutamente formidável. Lord Lytton disse que em sua experiência os fenômenos constavam de influências materiais, de cuja natureza nós éramos ignorantes; o Doutor Carpenter defendeu a sua tecla da “cerebração inconsciente”. O Doutor Kidd pensava que em sua maioria os fenômenos eram subjetivos e três testemunhas, conquanto convencidas da autenticidade dos fatos, os tomavam por ações demoníacas. Essas objeções foram bem respondidas por Mr. Thomas Shoster, autor das “Confessions of a Truth Seeker”, e secretário do Colégio dos Trabalhadores, numa admirável análise do relatório em The Spiritual Magazine.
É digno de nota que, ao ser publicado esse relatório tão importante quanto ponderado, tivesse sido ridicularizado por uma boa parte da imprensa de Londres. Uma honrosa exceção foi o Spectator.
O noticiarista de The Times considerou-o “nada mais que uma mixórdia de conclusões inconsistentes, adornada por uma porção de monstruosidades sem valor que, para infelicidade nossa, jamais se reuniram para um julgamento.”
O Morning Post disse: “O relatório que foi publicado não vale nada.”
O Saturday Review esperava que aquele relatório “desacreditasse um pouco mais uma das mais inequivocamente degradantes superstições que jamais circularam entre gente que raciocina”.
O Standard fez uma crítica sólida, que merece ser lembrada. Objetando à observação dos que não acreditam no Espiritismo, embora digam que “existe algo novo” o jornal observou sábiamente: “Se nisto existe algo além de impostura e imbecilidade, há todo um outro mundo aí”.
O Daily News considera o relatório como “uma importante contribuição para a literatura de um assunto que, mais dia menos dia, pelo próprio número de seus adeptos, exigirá mais longa investigação”.
O Spectator, depois de descrever o livro como extremamente curioso, acrescenta: “Poucos, entretanto, lerão a massa de provas coligidas nesse volume, mostrando a sólida fé na realidade dos supostos fenômenos espíritas, ocorridos com um bom número de indivíduos de caráter respeitável e sólido, sem concordar, também, com a opinião de Mr. Jeffrey de que os notáveis fenômenos testemunhados, alguns dos quais não tinham sido inquinados de impostura ou de fraude e o testemunho coletivo de pessoas respeitáveis “justificam a recomendação do assunto a investigações posteriores cautelosas”.
São estes ligeiros extratos de um noticiário mais longo nalguns poucos jornais de Londres – pois houve muitos outros – e, ruins como são, não deixam de indicar que nenhuma mudança de atitude houve por parte da imprensa, que habitualmente ignorava o assunto.
É preciso lembrar que o relatório apenas tratava do aspecto fenomênico do Espiritismo e este, na opinião dos dirigentes espíritas, constitui, decididamente, o seu lado menos importante. Apenas no relatório de uma subcomissão se registra que, de um modo geral, o tema central das mensagens era que a morte física não passava de trivial assunto retrospectivo, mas que para o Espírito havia um renascimento em novas experiências de existências, que a vida do Espírito era, sob todos os pontos, humana; que as relações amigáveis eram tão comuns e agradáveis quanto em vida; que, não obstante os Espíritos demonstrassem grande interesse pelas coisas mundanas, não desejavam retornar à anterior condição de vida; que a comunicação com os amigos da Terra era agradável e desejada pelos Espíritos, devendo ser por aqueles tomada como uma prova da continuidade da vida, a despeito da dissolução do corpo, e que os Espíritos não pretendiam ter o poder seguro de profetizar. Eis os principais pontos das informações recebidas.
No futuro será reconhecido, de um modo geral, que em seus dias e naquela geração, a Comissão da Sociedade Dialética realizou um trabalho excelente. A grande maioria de seus membros se opunha às alegações psíquicas, mas, em face da evidência, com poucas exceções, tais como o Doutor Edmunds, estes reforçaram o testemunho dos sentidos. Houve poucos exemplos de intolerância, como a infeliz declaração de Huxley e a de Charles Bradlaugh de que nem mesmo examinaria certas coisas, porque se situavam na região do impossível; mas, em conjunto, o trabalho das subcomissões foi excelente.
No relatório da Comissão da Sociedade Dialética há um longo artigo do Doutor Edmunds, adversário do Espiritismo, e das constatações dos colegas. Merece leitura, como típico de uma certa classe de mentalidade. O digno doutor, imaginando-se imparcial, é tão absolutamente prevenido que jamais pôde entrar em sua cachola a concebível possibilidade de que os fenômenos fossem supra-normais. Quando assiste a um deles com os próprios olhos, pergunta: “Como foi o truque?” Se não consegue responder à pergunta, não o considera digno de qualquer outra explicação, e apenas registra que não lhe foi possível descobrir o truque. Assim seu testemunho, que é perfeitamente honesto em relação ao fato, registra que algumas flores e frutas ainda úmidas, caíram sobre a mesa – fenômeno de transporte, tantas vezes verificado com Mrs. Gusy. O único comentário do doutor é que elas devem ter sido tiradas do aparador, embora se possa imaginar que uma cesta de frutas sobre o aparador deveria ter chamado a atenção e ele não se arrisque a dizer que tinha visto tal objeto. De novo foi fechado na cabine com Davenport e admite que este nada podia fazer, mas, em todo caso, deve haver um truque de mágica. Então, quando verifica que os médiuns que percebem que a sua atitude mental é de irremediável recusa de examinar novamente o caso, toma a observação como um reconhecimento de culpa. Há um certo tipo de mentalidade científica que é muito aguda dentro de sua especialidade; mas, fora dela, é a coisa mais maluca e ilógica do mundo.
Para a Comissão Seybert, que estudaremos agora, foi uma infelicidade ter sido composta inteiramente de gente tal, com a exceção de um espírita, um certo Mr. Hazard, que fora convocado por eles e que tinha pouca possibilidade de influenciar a sua atmosfera geral de obstrução. As circunstâncias em que foi nomeada a Comissão foram as seguintes: um tal Henry Seybert, cidadão de Filadélfia, havia deixado a soma de sessenta mil dólares com o objetivo de ser criada uma Cadeira de Filosofia na Universidade de Pensilvânia, com a condição de que a mesma Universidade nomeasse uma comissão para “fazer uma completa e imparcial investigação sobre todos os sistemas morais, religiosos ou filosóficos que pretendem representar a verdade e, particularmente, o Espiritismo”. O pessoal da comissão escolhida é indiferente, não obstante ser intimamente ligado à Universidade, ao Doutor Peser, deão da Universidade, como presidente honorário, ao Doutor Furnnes, como presidente efetivo e ao Professor Fullerton, como secretário. A despeito de que o dever da Comissão era “fazer uma completa e imparcial investigação” do moderno Espiritismo, o relatório preliminar diz friamente:
“A Comissão é composta de homens cujos dias já se acham cheios de obrigações, que não podem ser postas de lado e que assim, apenas podem dedicar uma pequena parte de seu tempo a essas investigações”.
O fato de estarem os membros satisfeitos de principiar com essa restrição, mostra quão pouco entendiam a natureza do trabalho que defrontavam. Em tais circunstâncias o fracasso era inevitável. As reuniões começaram em março de 1884 e um relatório preliminar, ou coisa que o valha, foi publicado em 1887. Pelo que se viu o relatório ficou sendo final, por isso que, reimpresso em 1920, nada lhe foi acrescentado, a não ser um prefácio incolor em três períodos, por um descendente do primeiro presidente. O motivo central desse relatório é que a fraude de um lado e a credulidade do outro constituem tudo no Espiritismo e que realmente nada havia de sério que merecesse referência. O documento merece uma leitura completa por todo estudioso de psiquismo. A impressão que fica na mente é que os vários membros da Comissão se achavam em seus campos limitados, esforçando-se honestamente para apreender os fatos, mas que as suas mentes, como a do Doutor Edmunds, eram formadas de tal modo que quando, a despeito de sua atitude repelente e impossível, algum acontecimento psíquico tentava romper as suas barreiras, nem por um instante consideravam a possibilidade de que fosse genuíno, mas simplesmente passavam adiante como se não existisse. Assim, com Mrs. Fox-Kane obtiveram acentuadíssimas batidas mas se satisfazem com a suposição, milhares de vezes desmentida, de que viessem de dentro de seu próprio corpo e passaram sem comentários sobre o fato de que por seu intermédio receberam longas mensagens, escritas rapidamente pelo avesso, de modo que só podiam ser lidas através do espelho. Essa escrita rapidíssima, continha um latim abstruso, uma sentença que aparentemente estava muito acima da capacidade do médium. Tudo isto ou foi ignorado ou ficou sem explicação.
Novamente, observando Mrs. Lord, a Comissão obteve a Voz Direta e luzes fosforescentes, depois de ter examinado a médium. Temos informações de que a médium produziu “um quase contínuo bater de palmas”, além de que, pessoas mais afastadas parecem ter sido tocadas. O preconceito que presidiu o inquérito pode ser caracterizado pela observação do presidente efetivo W. M. Kewler, que era tido como um fotógrafo de Espíritos, pois “não ficaria satisfeito senão com um querubim em minha cabeça, um em cada membro e um anjo batendo asas na minha frente...” Um espírita ficaria muito surpreendido se realmente um investigador de maneiras tão frívolas conseguisse resultados. Em tudo, a explicação de que o médium produzia alguma coisa como um mágico. Nunca, por um momento sequer eles admitiram que a simpatia e o consentimento de agentes invisíveis pudesse ser essencial – agentes que se podem curvar ante mentes simples, encolher-se ou fazer o jogo de quem sabe se divertir.
Enquanto houve alguns resultados que podem ser genuínos, mas que são postos de lado no relatório, houve alguns episódios penosos para os espíritas, mas que nem por isso podem ser esquecidos. A Comissão descobriu fraudes óbvias no caso da médium da lousa, Mrs. Patterson e é impossível negar que o caso de Slade seja substancial. Os últimos dias desse médium foram certamente sombrios e as forças que outrora tinham sido tão notáveis devem ter sido substituídas pelos truques. O Doutor Eurness chega mesmo a asseverar que esses truques eram admitidos, mas a anedota, como é dada no relatório, antes sugere uma leviandade da parte do médium. Que o Doutor Slade pudesse divertir-se com o Doutor através de sua janela aberta e imediatamente respondesse a uma frase faceta, admitindo que toda a sua vida tinha sido uma fraude, é absolutamente inacreditável.
Há alguns aspectos nos quais a Comissão – ou pelo menos alguns de seus membros – não procedeu com ingenuidade. Assim, declaram de início que apóiam o seu relatório em seu próprio trabalho e desprezam a massa de material aproveitável. A despeito disso, incorporam um longo relatório adverso, escrito por seu secretário sobre as declarações de Zöllner, dado no capítulo que trata das experiências de Slade em Leipzig. Ele teve o cuidado de eliminar o fato de que o maior ilusionista da Alemanha, após considerável investigação, deu um atestado de que os fenômenos de Slade não eram truques. Por outro lado, quando o testemunho de um mágico é contra a explicação espírita, como nos comentários de Kellar, esta vem na íntegra, aparentemente sem conhecimento de que no caso de um outro médium, Eglinton, esse mesmo Kellar havia declarado que os resultados estavam acima de sua arte.
Na entrada do relatório diz a Comissão: “Sentimo-nos felizes por ter-nos contado, desde o início, com Mr. Thomas R. Hazard, amigo pessoal de Mr. Seybert, como conselheiro, desde que é muito conhecido na região como um espírita convicto”. Evidentemente Mr. Hazard conhecia a importância de garantir as condições adequadas e o exato tipo de assistentes para um trabalho experimental como aquele. Descrevendo uma entrevista com Mr. Seybert, poucos dias antes de sua morte, quando aceitou ser seu representante, diz Mr. Hazard que o fez apenas “com inteira e clara compreensão de que me fosse permitido indicar os métodos a seguir na investigação, designar os médiuns que deveriam ser consultados e recusar a presença de pessoas que julgasse em conflito com a harmonia e a boa ordem dos grupos espíritas”. Mas esse representante de Mr. Seybert parece que ficou inteiramente esquecido pela Universidade. Depois de haver a Comissão realizado algumas sessões, Mr. Hazard ficou descontente com alguns de seus membros e com os seus métodos. Encontramo-lo publicando o que se segue em Filadélfia no North American de 18 de maio de 1885, possivelmente depois de vãos contactos com os diretores da Universidade:
“Sem querer atingir, no mínimo que seja, o inatacável caráter moral de cada um dos membros da Faculdade, inclusive a Comissão na estima pública ou no alto padrão social e literário que eles ocupam na sociedade, devo dizer que, com uma estranha convicção, um julgamento vesgo ou uma perversão intelectual as Autoridades da Universidade colocaram na Comissão de Investigação do Espiritismo uma maioria de membros cuja educação, hábitos mentais e preconceitos os inabilitam singularmente para uma investigação completa e imparcial do assunto que as Autoridades Universitárias por uma questão legal e por uma questão de honra, são obrigadas a fazer; que o objetivo foi diminuir, desacreditar e atrair o desprezo e a animadversão geral para a causa que eu sei que o finado Henry Seybert tinha no coração e amava acima de qualquer coisa no mundo. As Autoridades dificilmente poderiam escolher instrumentos mais adequados para o seu objetivo, entre os cidadãos de Filadélfia do que os cavalheiros que constituem a maioria da Comissão Seybert. E isto eu repito, não por motivos que lhes afete o padrão moral, social ou literário na sociedade, mas simplesmente devido aos seus preconceitos contra a causa do Espiritismo.”
Posteriormente avisou as Autoridades que deveriam ser excluídos da Comissão os senhores Fullerton, Thompson e Koenig.
Mr. Hazard informou que, numa conferência feita a 3 de março de 1885, no Clube da Universidade de Harvard, o Professor Fullerton havia dito:
“É possível que o meio pelo qual os médiuns contam a vida de uma pessoa seja o processo de transmissão de pensamento, pois cada um que tem notícia dessas coisas vai a um médium pensando exatamente naqueles pontos que o médium aborda.
... Quando alguém tem um resfriado, sente um zumbido nos ouvidos, e um louco, constantemente, ouve sons que jamais ouvira. Então é possível que uma doença mental ou dos ouvidos, ou uma forte emoção, sejam a causa de um grande número de fenômenos espíritas.”
Estas palavras foram ditas depois que o Professor tinha servido na Comissão por mais de doze meses.
Mr. Hazard também cita o Doutor George A. Koenig, cujo ponto de vista foi publicado em Philadelphia Press, cerca de um ano depois de sua nomeação para a Comissão:
“Devo admitir francamente que estou preparado para negar a verdade do Espiritismo, tal qual é agora popularmente entendido. É minha convicção que, sem exceção, todos os chamados médiuns são charlatães. Jamais vi Slade realizar algum de seus truques; mas, pelas descrições publicadas, convenci-me de que é um impostor, e o mais esperto da turma.
Não penso que a Comissão veja com muito agrado o exame dos chamados médiuns espíritas. Os homens mais sábios são capazes de ser enganados. Numa hora um charlatão pode inventar tantos truques que um homem honesto levará um ano para descobri-los.”
Mr. Hazard soube, de fonte que considerava segura, que o Professor Robert E. Thompson era responsável por esse tópico que apareceu em fevereiro de 1880 no Penn’s Monthly:
“Ainda que o Espiritismo fosse tudo quanto pretendem os seus campeões, ele nenhuma importância tem para os que professam a fé cristã. A consideração e a discussão do assunto são comprometedoras de suas noções e arrastam a discussões com as quais nada tem que ver um crente cristão.”
Temos nestas expressões o meio de julgar como estavam capacitados os membros da Comissão para fazer aquilo que pedira Mr. Seybert – “uma completa e imparcial” investigação do assunto.
Um periódico espírita americano, o Banner of Light, comentando o comunicado de Mr. Hazard, escreveu:
“Tanto quanto estamos informados, não se tomou conhecimento do apelo de Mr. Hazard – certamente nenhuma medida, pois os membros citados continuam na Comissão até agora e seus nomes aparecem no relatório preliminar. De fato o Professor Fullerton foi e é ainda o secretário; cento e vinte das cento e cinqüenta páginas do volume que temos sob os nossos olhos são escritos por ele e exibem essa falta excessiva de percepção espiritual e de conhecimento do oculto e, podemos ainda dizer, das leis naturais, o que o levou a informar o auditório de estudantes de Harvard que “quando alguém tem um resfriado sente um zumbido nos ouvidos”; que “um louco constantemente ouve sons que jamais ouvira”; e sugere que os fenômenos espíritas devem proceder de tais causas.
E continua o Banner of Light:
“Consideramos que a falta da Comissão Seybert, desatendendo o conselho de Mr. Hazard, como era de sua inteira obrigação, é a chave do fracasso completo de todos os seus subsequentes esforços. A insignificância dos resultados fenomênicos, aproximando-se daquele que seria desejável, até por um céptico, e que são registrados nesse livro, certamente é notável. É um relatório do que não foi feito, mais do que daquilo que foi. Nos memorandos dos registros de cada sessão, redigidos pelo Professor Fullerton, está mais do que visto o esforço para realçar tudo quanto uma mentalidade superficial pode considerar como prova de trapaça do médium e subtrair tudo quanto possa tornar evidente a verdade das alegações... É mencionado que, quando certos membros da Comissão se achavam presentes, os fenômenos cessavam. Isto prestigia a correta posição de Mr. Hazard. E não há ninguém que, tendo experiências com médiuns, bastante para que sua opinião seja tida como valiosa, não a endosse. Os Espíritos sabiam com que elementos se iam encontrar; esforçaram-se por afastar aqueles que reduziriam as suas experiências; falharam devido à ignorância, à teimosia e aos preconceitos da Comissão, e as experiências falharam. Assim a Comissão, muito “cônscia de si mesma”, decidiu que tudo era fraude.”
Referindo-se ao relatório, diz Light aquilo que se precisa dizer agora, tanto quanto em 1887:
“Noticiamos com alguma satisfação, conquanto sem qualquer admiração pelo que possa resultar do prosseguimento de maus métodos de investigação, que a Comissão pretende continuar o seu inquérito “com a mente tão sincera e honestamente aberta, como até aqui, para a convicção.” Desde que assim é, permitimo-nos oferecer algumas palavras de conselho baseadas numa larga experiência. A investigação desses obscuros fenômenos é conduzida com dificuldades e toda instrução que possa ser dada se deriva de um conhecimento que é, principalmente, empírico. Sabemos, porém, que prolongadas e pacientes experiências com um grupo constituído adequadamente são uma condição sinequanon. Sabemos que nem tudo depende do médium, mas que o círculo deve ser formado e variado experimentalmente de vez em quando, até que os próprios constituintes sejam garantidos. Não podemos dizer o que sejam esses elementos na Comissão Seybert. Eles devem descobri-lo por si mesmos. Que estudem a literatura espírita e as variadas características da mediunidade antes de fazerem experiências pessoais. E quando o tiverem feito e, talvez, quando tiverem verificado como assim é fácil conduzir um exame dessa natureza, para chegar a resultados negativos, estarão numa posição melhor para devotarem um cuidado paciente e inteligente a um estudo que não pode ser conduzido com proveito de outra maneira.
Não há dúvida de que o relatório da Comissão Seybert atrasou por algum tempo a causa da verdade psíquica. Mas o prejuízo real caiu também sobre a instituição científica que aqueles cavalheiros representavam. Nos dias atuais, quando o ectoplasma, a base física dos fenômenos psíquicos, foi estabelecido acima de qualquer sombra de dúvida para quem quer que examine os fatos, é demasiado tarde para pretender que nada existe a ser examinado.
Agora rara é a capital que não possui a sua sociedade de Pesquisas Psíquicas – resposta final à conclusão da Comissão de que não há campo para pesquisas. Se a Comissão Seybert tivesse tido o efeito de levar a Universidade de Pensilvânia a encabeçar esse movimento, inspirando-se na grande tradição do Professor Hare, como seria brilhante a sua posição final!
Como Newton associou Cambridge com a lei da gravitação, assim Pensilvânia ter-se-ia ligado a um maior avanço do conhecimento humano. A vários centros científicos da Europa coube partilhar essa honra.
A restante investigação coletiva é de menor importância, desde que se dedica a um médium particular. Esta foi conduzida pelo Instituto Geral Psicológico, em Paris. Consistiu em três séries de sessões com a famosa Eusápia Palladino, nos anos de 1905, 1906 e 1907, num total de quarenta e três sessões. Não são conhecidas as listas com os nomes de todos os assistentes, nem houve um adequado relatório geral: o único registro é o do secretário. Entre os investigadores incluíam-se figuras distintas, como Charles Richet, o Casal Curie, Bergson, Perrin, o Professor d’Arsonval, do Colégio de França, que era o presidente da Sociedade, o Conde de Grammont, o Professor Charpentier e o Reitor Debierne, de Sorbonne. O resultado obtido não foi desastroso para a médium, desde que o Professor Richet endossou a realidade de sua força psíquica, mas os pequenos desuses de Eusápia são registrados no subsequente relato de sua carreira e bem podemos imaginar o efeito desconcertante que teriam tido sobre aqueles para quem essas coisas eram novidade.
Está incluída no relatório uma espécie de conversa entre os assistentes, na qual falam do assunto, muitos porém de maneira nebulosa e imprópria para mentes disciplinadas. Não se pode alegar que qualquer luz nova tivesse sido derramada sobre a médium ou que qualquer novo argumento tivesse sido aduzido, quer pelos cépticos, quer pelos crentes. Entretanto o Doutor Geley, que se aprofundou tanto quanto quem mais o fez no psiquismo, proclama que “as experiências” – e não o relatório – constituem valiosa contribuição para o assunto.
Baseia-se ele no fato que os resultados verificados, por vezes, confirmam notavelmente os obtidos em seu próprio Instituto Metapsíquico, com Kluski, Guzik e outros médiuns. As diferenças, diz ele, são de detalhes: nunca essenciais. O controle das mãos foi o mesmo em ambos os casos, onde ambas as mãos eram presas. Isto foi mais fácil no caso dos últimos médiuns, especialmente com Kluski em transe, enquanto Eusápia era geralmente muito irrequieta. Parece que o meio termo era a condição característica de Eusápia e o que foi observado pelo autor no caso do Frau Silbert, Evan Powell e outros médiuns, onde a personalidade parece normal, e ainda peculiarmente susceptível de sugestão ou outras impressões mentais. A suspeita de fraude pode ser levantada muito facilmente em tais condições, porque o desejo geral da parte da assistência de que aconteça alguma coisa reage fortemente sobre a mente do médium, que no momento não raciocina. Um amador que tinha alguma força psíquica garantiu ao autor que necessita de considerável inibição para manter tais impulsos latentes e aguardar de fora a verdadeira força. Nesse relatório lemos: “Estando controladas as mãos, os joelhos e os pés de Eusápia, a mesa ergueu-se subitamente, pelos quatro pés, que ficaram acima do chão. Eusápia cerra os punhos e os apóia na mesa, que então se ergue completamente do chão, cinco vezes seguidas, ao mesmo tempo em que eram dadas cinco batidas. É de novo levantada completamente, enquanto cada uma das mãos de Eusápia se apóia na cabeça de um assistente. É levantada de cerca de trinta centímetros do solo e suspensa no ar durante sete segundos, enquanto mantém a mão sobre a mesa e uma vela acesa é colocada debaixo”, e assim por diante, com provas mais conclusivas com a mesa e outros fenômenos.
A timidez do relatório foi satirizada pelo grande espírita francês Gabriel Delanne. Disse ele:
“O relatório insiste em dizer “parece” e “dá a impressão”, de um homem que não está seguro daquilo que descreve. Os que realizaram quarenta e três sessões, com bons olhos e aparelhos de verificação devem ter uma opinião firmada – ou, pelo menos, ser capazes de dizer, se consideram determinado fenômeno como fraudulento; que numa determinada sessão tinham visto o médium em ato de fraude. Mas não há nada disso. O leitor é deixado na incerteza – uma vaga suspeita pairando sobre tudo, muito embora sem qualquer base séria.
Comentando isto, diz Light:
“Mostra Delanne, pelos resumos do próprio Relatório, que algumas experiências tiveram êxito, ainda quando as maiores precauções foram tomadas, tais como usar lâmpada escura para verificar se realmente Eusápia tocara os objetos que se moviam.
Deliberadamente o Relatório ainda desconta essas observações diretas e positivas, com exemplos de casos “ocorridos em outras ocasiões e outros lugares”, nos quais “se dizia” ou “se pensava” que Eusápia tivesse indevidamente influenciado o fenômeno.
“O relatório Courtier provará cada vez mais ser aquilo que já dissemos ser – ‘um monumento de inépcia’ e a realidade dos fenômenos de Eusápia não pode honestamente ser posta em dúvida por frases sem sentido, com as quais o relatório foi enfeitado com liberalidade.”
Aquilo que pode ser chamado uma investigação coletiva de um médium, foi empreendido nos anos de 1923 a 1925, com Mrs. Crandon, senhora de um médico de Boston, por uma comissão escolhida pelo Scientific American e depois por uma pequena comissão de homens de Harvard, tendo como chefe o conhecido astrônomo Doutor Shapley. A controvérsia sobre este inquérito ainda ruge e o assunto foi referido no capítulo que trata dos grandes médiuns modernos. Em resumo, pode-se dizer que dos investigadores do Scientific American, o secretário, Mr. Malcolm Bird e o Doutor Hereward Carington proclamaram a sua completa conversão. Os outros fizeram declarações imprecisas, que envolvem a humilhante confissão de que, após numerosas sessões, feitas sob suas próprias condições e em presença de constantes fenômenos, não poderiam dizer se tinham sido enganados ou não.
O defeito da comissão era não contar com um espírita experimentado e familiar com as condições psíquicas. O Doutor Prince era muito surdo, enquanto o Doutor McDougall estava numa situação em que toda a sua carreira acadêmica se achava ameaçada pela aceitação de uma explicação impopular. A mesma observação se aplica à comissão do Doutor Shapley, toda composta de rebentos científicos. Sem imputar consciente desonestidade mental, há uma saída subconsciente em busca da segurança. Lendo o relatório desses cavalheiros, com sua concordância com todas as sessões e seus resultados, e seu veredicto final de fraude, não é possível descobrir nenhum caminho normal para que tivessem chegado às suas conclusões.
Por outro lado, o endosso da mediunidade por gente que não tinha razões pessoais para extrema precaução era frequente e entusiástico. O Doutor Mark Richardson, de Boston, referiu que tinha estado em mais de trezentas sessões e não tinha a menor dúvida quanto aos resultados.
O autor viu numerosas fotografias do fluxo ectoplásmico de “Margery” e, comparando-as com fotografias semelhantes, tiradas na Europa, não hesita em dizer que são inquestionavelmente genuínas, e que o futuro justificará o médium contra os seus críticos insensatos.

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